Foto de um homem com óculos de realidade virtual. Ele está com o dedo apontado para a frente. Na sua frente há gráficos que simulam uma interface interativa, como se ele estivesse manipulando com os dedos
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Orientações de acessibilidade para interfaces imersivas

Em junho de 2023 a Apple anunciou o lançamento do seu óculos de realidade mista/virtual (RM/RV). O dispositivo que custa por volta de US$3.500 permite o acesso a diversos aplicativos combinados com a experiência no meio físico.

O tema não é novo. O conceito de imersão e realidade mista já foi explorado pelo Facebook/Meta, Microsoft e Google. APIs de realidade virtual também não são novidades. A WebXR Device API, desenvolvida para aplicações de realidade virtual, foi criada em 2014.

A partir de todo avanço tecnológico nesse cenário, é importante entendermos como pessoas com deficiência podem usufruir dessa interface sem barreiras de acesso. Existem novos tipos de modalidades de entrada, como gestos, fala e rastreamento ocular (além dos tradicionais teclados, botões e controles físicos). Esse é um tema importante e que precisa ser debatido.

Aplicações podem exigir movimentos específicos, referências visuais e orientação por áudio que podem ser inacessíveis para pessoas com deficiência. Por isso trago nesse artigo algumas necessidades e requisitos que aplicações de realidade virtual precisam contemplar para evitar barreiras de acesso.

Desafios para Acessibilidade em RV

Foto de um homem idoso em uma cadeira de rodas. Ele está usando um óculos de realidade virtual e está com as mãos para a frente como se estivesse se exercitandoConsiderando todas as possibilidades e oportunidades para o desenvolvimento de aplicações, certas abordagens para RM/RV precisam considerar o acesso de pessoas com deficiência. Certos tipos de interação podem causar barreiras ou desconforto para essas pessoas, como por exemplo:

  • Excesso de ênfase nos controles de movimento
    Nem todas as pessoas podem executar todos os movimentos exigidos pelas plataformas. Isso pode ser um grande desafio para pessoas com limitações motoras.
  • Necessidade de uma posição física específica
    Fazer uso de recursos como óculos e controles manuais pode exigir um espaço que o usuário pode não ter a disposição, especialmente se esse usuário não puder ficar de pé. O mapeamento do espaço é importante para tornar a experiência mais inclusiva.
  • Hardware e software bloqueados pela empresa
    Algumas empresas podem não permitir que hardware ou software de outras empresas se conectem a sua aplicação. Isso pode impedir que tecnologia assistiva do usuário se conecte a plataforma.
  • Falta de precisão espacial no design de áudio
    A orientação espacial por áudio precisa contemplar o uso por pessoas com limitações de audição, como pessoas surdas, com baixa audição ou com audição de apenas um lado. A orientação somente por áudio pode ser um desafio.

Necessidades e requisitos

Conhecendo as boas práticas de acessibilidade e como as pessoas com deficiência utilizam tecnologias da informação e comunicação (TICs), listo abaixo 10 necessidades e requisitos que precisamos cumprir para ampliar o público que fará uso de interfaces imersivas.

Customização de movimentos e de interface

Permita que o usuário configure a interface e os movimentos. Algumas pessoas podem não conseguir executar os movimentos na configuração padrão por diversos motivos (falta de força, destreza ou mesmo falta de movimento dos membros). Essa configuração pode ser feita por ajustes e mapeamento de botões, sensibilidade de movimento e em efeitos que possam causar desconforto

Interação

Permita que usuários executem as ações ou tarefas sem a necessidade de fazê-lo fisicamente, como com um dispositivo independente conectado a aplicação.

Imagine uma aplicação de esportes, como uma luta de boxe. Alguns usuários podem não conseguir se movimentar devido a falta de movimento dos membros inferiores e o usuário pode fazer ajustes de configuração para não depender de certos movimentos que ela não pode executar. O usuário pode também adicionar um novo hardware que permita esses movimentos sem a necessidade de deslocamento físico.

Controles e tamanho de alvo

Garanta que os alvos da ação tenham um tamanho adequado e que não necessite movimentos muito precisos para ativação.

Hoje temos dispositivos com resoluções de telas dos mais diversos tipos. Grandes resoluções de tela podem deixar os ícones e elementos interativos pequenos. Quando expandimos esse conceito para o ambiente imersivo podemos ter dificuldade em acionar botões muito pequenos ou que exigem um movimento muito preciso. Um usuário com limitações de movimento, como tremores por exemplo, pode ter mais dificuldade ao executar essas tarefas.

Comandos de voz

Permita comandos de voz para facilitar o controle de pessoas com deficiência. Em determinados casos certos controles podem ser difíceis de operar sem a visão, audição ou movimentos. O controle de voz permite que usuários não dependam exclusivamente do movimento e que possam acessar recursos por meio de outros atalhos.

Alterações de cor

Permita a personalização de cores (como skins, luminosidade e contraste) para beneficiar pessoas com baixa visão e daltonismo.

Essa customização permite que o usuário com baixa visão tenha melhor visibilidade do ambiente imersivo, que em alguns casos pode ser muito escuro ou de baixo contraste. Esse recurso pode peneficiar também pessoas que não enxergam cor. Alias, vale lembrar de nunca usar somente cor para transmitir uma informação.

Lupa

Permita recurso de lupa para auxiliar usuários com baixa visão. Esse recurso já é bem-vindo em dispositivos móveis (quando fazemos o movimento de pinça), sendo assim ele é fundamental para permitir que usuários com baixa visão possam aproximar os elementos de interface para melhor compreensão e interação.

Mensagens e alertas

Garanta que as mensagens e alertas importantes estejam disponíveis para a tecnologia assistiva do usuário. Se o usuário não puder perceber esses alertas ele pode ter problemas para operar a interface.

Descrições em texto e legendas

Garanta que o conteúdo em áudio esteja disponível também em texto, mesmo que seja a partir de configuração. Pessoas surdas ou com baixa audição são beneficiadas com esse recurso, mas também pessoas que não são nativas no idioma do vídeo. Poder configurar se quer ou não legendas é uma possibilidade que auxilia muito a compreensão do conteúdo audiovisual.

Velocidade

Permita que o usuário configure a velocidade das ações dentro do ambiente imersivo. Isso pode facilitar o uso por pessoas com limitações motoras e cognitivas. Controlar a velocidade permite que não seja necessário executar ações em tempo curto e possibilita melhor aproveitamento por um número maior de pessoas.

Opções de áudio em mono

Possibilita que pessoas com limitações de audição possam perceber o som exibido. Considere que nem todas as pessoas podem perceber um som vindo de apenas uma direção. Permitir a configuração de áudio não limita o uso da interface e beneficia pessoas com deficiência.

Por um ambiente imersivo mais acessível

Pessoas utilizam dispositivos e interfaces de formas distintas e essas diferenças precisam ser respeitadas. Conforme a tecnologia evolui ela traz novas possibilidades, principalmente para a inclusão de pessoas com deficiência. Diretrizes de acessibilidade existem desde 1998 e elas podem e devem contemplar ambientes de realidade virtual.

Outras orientações para VR/XR

Esse material foi feito com base no documento XR Accessibility User Requirements e na palestra que ministrei na Meta em 28 de abril de 2023 (arquivo em PDF). A documentação técnica (e que contempla pelo menos um pouco de acessibilidade de cada fornecedor) está listada a seguir:

Crédito das imagens: Freepik.com