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O processo para escrever meu novo livro sobre acessibilidade na Web

Capa do livro Acessibilidade na Web, de Reinaldo FerrazÉ com imensa satisfação que comunico a todos que foi lançado pela Casa do Código meu novo livro sobre Acessibilidade na Web.

O livro está disponível no site da Casa do Código, Amazon e Google Books (por enquanto somente em versão digital).

Decidi editar esse post para contar um pouco sobre os motivos e o processo para escrever este livro.

Motivação

Foi em fevereiro de 2019 que entrei em contato com a Casa do Código para propor um livro sobre acessibilidade na Web. Já tinha escrito um livro com essa temática em 2017 com um objetivo bem específico. Pensei que precisava não só escrever sobre as novas diretrizes de acessibilidade (WCAG 2.1) mas também tentar uma nova abordagem da acessibilidade.

Estamos muito acostumados a tratar a acessibilidade de forma binária: O site/aplicação é ou não acessível. Essa abordagem tem uma série de problemas, mas a principal é que ao checar as barreiras de acesso e erros de verificação automática, um site com um erro e outro com mil estão no mesmo balaio. A abordagem de “zero erros” cria uma busca por um resultado que pode não se refletir na navegação sem barreiras de uma pessoa com deficiência. Ter poucos erros é importante, mas eliminar barreiras é o que possibilita o acesso de pessoas com deficiência.

Por isso a abordagem foi em barreiras de acesso. Não listei cada diretriz do WCAG diretamente, mas elas foram contempladas quando apresentava as técnicas para a eliminação das barreiras.

Outra motivação para escrever foi a forma de aprender sobre acessibilidade.

Nunca aprendemos HTML direto pela documentação de conformidade do W3C. Começamos por livros, posts, tutoriais ou investigando o código fonte de um site. Por que a acessibilidade era diferente? Por que quem procura aprender acessibilidade vai direto ao WCAG? Os documentos do W3C são ótimos, mas complexos. Sempre recomendo a leitura de material mais amigável antes de entrar direto no WCAG. Um belo exemplo é o material que o Marcelo Sales disponibilizou para ensinar WCAG. Ele não desconsidera a recomendação do W3C, mas torna a leitura e compreensão muito mais fácil. E os artigos do Movimento Web para Todos, que mostram que a acessibilidade é muito mais humana do que técnica.

Era isso que eu queria. Escrever um livro que eu gostaria de ter lido quando estava aprendendo sobre acessibilidade. Que me orientasse onde buscar orientação e que tivesse exemplos de fácil compreensão.

O processo

Foram aproximadamente 15 meses de trabalho. Comecei pelos capítulos de eliminação de barreiras, que é o coração da publicação. Passei meses estudando, procurando referências e testando técnicas para ser o mais preciso e direto possível.

Ao final de todo esse processo, a revisão precisava ser minuciosa, afinal, na Web muita coisa muda em 15 meses. Validadores de acessibilidade mudaram suas interfaces, saíram do ar e voltaram, técnicas foram aprimoradas, documentos e posts novos foram publicados. Creio que a revisão tomou muito mais tempo do que todo o processo de produção do material.

Sobre as barreiras de acesso, decidi separá-las em quatro itens principais: Estrutura, navegação e interatividade, design e multimídia e conteúdo não textual. Creio que foi mais fácil fazer isso para quem quer usar o livro como um guia. Pensei em um designer que vai projetar um novo site e quer saber algumas orientações sobre cores, ou um conteudista que precisa descrever uma imagem. Eu queria que o livro fosse fácil de ser consultado, que pudesse dar respostas aos vários profissionais que se envolvem com desenvolvimento de produtos e conteúdos digitais.

Depois de elencar as barreiras fui direcionando a construção para o início e final da publicação. Falei sobre diretrizes de acessibilidade, tipos de deficiência e como as pessoas navegam, tecnologia assistiva e até um histórico sobre a acessibilidade na Web. Mas queria também dar mais insumos técnicos, como os recursos de acessibilidade de frameworks, CMSs e bibliotecas, colocando a acessibilidade na rotina do desenvolvimento e conformidade e questões legais.

A última coisa que fiz foi criar um capítulo com todas as referências utilizadas no livro, separadas por tema e com seus respectivos links. Isso tornaria a consulta muito mais fácil.

Referências na área

Eu queria muito contar com a participação de outros especialistas na área para dar sua opinião e contribuição sobre o livro. Uma delas foi a Lêda Spelta, uma das pioneira na acessibilidade na Web e quem eu considero como minha grande mentora e que me trouxe para esse tema. Para mim foi um privilégio que ela tenha aceito escrever o prefácio do meu livro. Foi um presente para mim.

Outra pessoa que teve um papel importantíssimo nesse livro foi a Talita Pagani. Outra profissional que admiro muito por todo o seu trabalho com a acessibilidade desde longa data. Não podia ter escolhido pessoa mais atenta e competente que a Talita para fazer a revisão final do livro. Suas sugestões foram fundamentais para que esse trabalho fosse publicado com todo o cuidado que eu queria.

Foi um enorme privilégio contar com essas duas pessoas que fazem parte da minha lista de referências sobre acessibilidade digital.

Enfim…

Escrever esse livro foi uma terapia. Foi um prazer. Escrever pensando no público, nas pessoas que vão usar para conhecer ou se aprofundar. Para estudar ou matar uma curiosidade. Não sei se isso acontece com todos os autores, mas já começo a me coçar para começar um novo livro.

Eu só tenho a agradecer a muita gente que me apoiou e incentivou não só na publicação desse livro, mas na minha carreira da acessibilidade na Web. Sou grato de coração pois essas pessoas me tornaram o profissional e o ser humano que sou hoje, com o objetivo de tentar deixar um mundo melhor para as próximas gerações.